Uma longa e curva bancada de madeira, assente sobre um terreno estéril, sem vida. Local medonho. Algumas das pessoas começavam-se a sentar, outras já se encontravam sentadas há algum tempo, estavam ansiosas para ver esta dançarina flamejante. Tal como eu queria. Ao dirigir-me para a bancada deparei-me com gente que conhecia, cumprimentei o pessoal, contudo o meu olhar dirigiu-se para um ser que se encontrava a ler.
Tinha umas lindas pernas e o seu parvo cabelo tapava-lhe o rosto. Avisei para que guardassem um lugar para mim e assim fizeram. É bom ter um grande amigo, um irmão que não é de sangue como ele. Podíamos contar um com o outro sempre que quiséssemos. Comecei a caminhar e aos poucos ela rasgava o olhar na minha direcção. Fugia à leitura para ver o que se aproximava, ocorria-me que podia estar a fazer algo estúpido, incorrecto, até porque eu não era assim. Só que fiquei curioso por ela ser a única a ler no meio de tanta gente.
Sentei-me ao seu lado e perguntei-lhe:
- Desculpa estar a ser incómodo, mas porque lês no meio desta gente e antes de um espectáculo fenomenal?
Ela lança-me um olhar esverdeado na minha pessoa. Oh caramba, não pode ser! Fingi que nunca a tinha visto, apesar da minha cara de surpreendido não conseguir esconder tal fingimento. Contudo, fez-se de despercebida.
- Leio para o nervosismo passar, gosto de ler bons romances. Mas olha que eu sei que me reconheces.
- Sim, também não era nada difícil não é? Eu também gosto de ler. Principalmente esse género de livros, porque esses permitem viver aquilo que não sou capaz de viver na vida real.
- Vocês, Homens são todos iguais, sem miolos e só pensam com a cabeça de baixo. Inventam mil e uma histórias para conquistar um troféu como uma mulher. Contudo, já houve uns há bocado que inventaram algo melhor do que tu. – Ela apontou na direcção deles e eu sorri.
- Menos mal, pensei que fosse pior. – Ela ri-se e eu também.
- Realmente, nunca pensei que alguém viesse falar comigo por causa de um livro, ao invés das minhas curvas. Desculpa se fui má para contigo.
- Não te preocupes, já é um hábito, não sou muito bom nesse tipo de coisas. Falta pouco para começar o espectáculo não é? O que vais fazer?
- Já está quase. Tens que esperar para ver.
- Assim o farei, será que depois poderíamos falar sobre o que estás a ler?
- Certamente.